Big Five: O Modelo de Personalidade Científico

O modelo de personalidade mais utilizada pela ciência se chama Big Five, ou, Os Cinco Grandes Fatores, em português. Como o nome sugere, trata-se de 5 traçõs de personalidade: Abertura, Conscienciosidade, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo. Mas por que esse modelo é tão relevante se existem tantos outros mais famosos ou tradicionais? Alguns até milenares, como é o caso do eneagrama, da astrologia e tantos outros. Para entendermos, primeiro, é importante sabermos como a ciência define personalidade.

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Personalidade

Personalidade pode ser definida como um padrão persistente de comportamentos, emoções e pensamentos [1]. Isso significa que apesar de haver certa constância, a personalidade não define absolutamente o que as pessoas vão fazer, pensar e sentir, mas indicam uma tendência de funcionamento. Assim, uma pessoa considerada calma pode muito bem explodir, apesar do senso comum muitas vezes a cobrarem por isso: o que deu em você para reagir dessa forma? Você sempre foi tão calmo(a)! A forma correta de interpretar a personalidade é: na maior parte do tempo, a pessoa vai se comportar de tal modo, mas nada a impede de, dadas determinadas circunstâncias, isso acabar variando.

O Big Five: as origens

Não existiu um cientista que cunhou esse modelo e disse “a partir de agora, esse é o Big Five”. Na verdade, a descoberta do modelo dos 5 Grandes Fatores iniciou a partir de análises estatísticas de estudos sobre personalidade. De certa forma, até a década de 1930 cada teórico usava o modelo de personalidade que lhe dava na telha. A teoria lexical, pensamento muito difundido entre os pesquisadores desse período, dizia que as características mais relevantes para a descrição da personalidade humana são codificadas nas palavras de um idioma [2]. Acontece que cada idioma diferente possui palavras diferentes e que não necessariamente uma palavra de um idioma vai existir uma correspondente em outro idioma. Então vários estudos foram sendo feitos pelo mundo testando essa hipótese: será que conseguimos estabelecer um modelo de personalidade universal com base no conjunto léxico, isto é, no conjunto total de palavras, de cada idioma, que falam sobre personalidade?

No final de 1930 Allport e Odbert compilaram cerca de 18.000 palavras da língua inglesa que descreviam características pessoais. Raymond Cattell, na década de 1940, reduziu a lista original para 4.500 palavras e, depois, para 16 traços de personalidade, utilizando análise fatorial. Na década de 1960, pesquisadores como Ernest Tupes e Raymond Christal analisaram dados adicionais e identificaram cinco dimensões principais, que ficaram conhecidas como o Big Five.

Observe que trabalho incrível de lapidação! O mais surpreendente foi que esse modelo que ficou famoso após os trabalhos de Lewis Goldberg, Paul Costa e Robert McCrae na década de 1980, se provou diante das mais diversas experimentações. Alguns dos domínios do Big Five inclusive se aplicam em outras espécies como moscas, polvos, cães e gatos[3,4,5,6]. Então existem desde moscas que exploram mais o ambiente (análogo aos traço de abertura e extroversão) até cães que podem ser mais extrovertidos. Quem tem pets em casa consegue coprovar isso muito bem, há pessoas que afirmam até saber qual emoções seu pequeno animal de estimação está sentindo em cada ocasião.

Big five: Os Cinco Grande Fatores de Personalidade

Abertura

Diz respeito à disponibilidade de vivenciar novos ambientes e novas experiências, abertura para o novo. Pessoas com elevado traço de abertura gostam de constantemente estarem experimentando novas possibilidades e se satisfazem assim e consideram pouco interessante aquilo que se repete. A literatura encontra ligação entre altos índices de abertura e uma maior elevada frequência de lembrança dos sonhos [7] e maior criatividade [8], por exemplo. Já aqueles que possuem baixo traço de abertura normalmente tendem a preferir não arriscar com novas experiências, e preferem o conforto de viver as mesmas experiências repetidas vezes: ver o mesmo filme diversas vezes, ter um gosto restrito musical ou usar sempre um tipo de roupa, por exemplo.

Abertura elevada: explorador(a).
Abertura reduzida: apegado(a) ao que já gosta.

Conscienciosidade

Apesar do nome estranho, na verdade se trata de algo bem simples: a busca por seguir objetivos, metas e planejamentos, normalmente visando recompensas de longo prazo. Pessoas com elevado traço de conscienciosidade gosta de seguir normas, estabelecer rotinas que a permitam alcançar determinado objetivo futuro e gostam de ter controle sobre os acontecimentos da vida de modo geral. Tendem, portanto, a menor espontaneidade.

Conscienciosidade elevada: planejador(a).
Conscienciosidade reduzida: espontâneo(a).

Extroversão

É a característica que representa o quanto a pessoa deseja interagir com outras pessoas. Elevados índices significa que a pessoa tem facilidade para interagir em ambientes públicos, se sente confortável nessas circunstâncias e às vezes até necessidade. São as pessoas que carregam sua bateria interagindo com os outros, que vê no mundo externo um ambiente muito mais interessante para ser vivido. Já aqueles que possuem baixos índices tendem a preferir o seu próprio mundo interno e normalmente até interagem com outras pessoas, mas com poucas , preferencialmente com uma de cada vez. Elas simplesmente acham seu mundo interno – seus pensamentos, sua imaginação, suas reflexões – mais interessantes que o mundo externo e sente que carregam sua bateria quando estão sozinhas ou com apenas alguém que se sente muito confortável.

Extroversão elevada: extrovertido(a).
Extroversão reduzida: introvertido(a).

Amabilidade

Também chamada de Agradabilidade, reflete o desejo de agradar outras pessoas e a gentiliza com as quais se deseja tratar. Pessoas com elevada amabilidade tende a desejar tratar os outros de modo gentil e empático, prezando pela cooperatividade e amistosidade entre elas. Baixos índices de amabilidade normalmente se manifestam em pessoas competitivas, que buscam superar as outras e veem as outras como possíveis competidores. Algo muito interessante é que pessoas com baixa amabilidade, por exemplo, tendem a reagir bem e produzir melhor em ambientes competitivos, mas pessoas com amabilidade reduzida tendem a não se motivarem por ambientes competitivos e se engajarem em propostas cooperativas.

Amabilidade elevada: cooperador(a).
Amabilidade reduzida: competidor(a).

Neuroticismo

É caracterizado por instabilidade emocional, reatividade emocional e vulnerabilidade ao estresse. Pessoas com elevado neuroticismo tendem a ser mais intensos emocionalmente, então elas podem demonstrar reações contagiantes de alegria e satisfação, saltitando de felicidade quando algo de bom acontecer, mas também quando algo de ruim acontecer, estarão propícias a experimentarem as sensações ruins de modo mais vívido e prejudicial. Há forte relação entre elevados níveis de neuroticismo e maior susceptibilidade à ansiedade, depressão e irritabilidade [9]. Pessoas com baixo neuroticismo tendem a ser mais estáveis emocionalmente, calmos e pouco reativos.

Neuroticismo elevado: Emocionalmente instável.
Neuroticismo reduzido: Emocionalmente estável.

Big Five